CNJ investiga juiz por suposta irregularidade na investigação que confiscou celular de advogado assassinado em Cuiabá
11/12/2024
Mensagens encontradas no celular de Zampieri levaram, em agosto deste ano, ao afastamento de dois desembargadores de Mato Grosso por suspeita de venda de decisões judiciais. Wladymir Perri
TJMT
O juiz do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT), Wladymir Perri, é investigado por suspeita de infração disciplinar no inquérito da morte do advogado Roberto Zampieri, em dezembro de 2023, em Cuiabá. A decisão unânime da instauração do Processo Administrativo Disciplinar (PAD) foi tomada durante a 16ª Sessão Ordinária de 2024, nessa terça-feira (10).
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O corregedor nacional de Justiça, ministro Campbell Marques, destacou que as irregularidades cometidas pelo juiz são graves, como o fato de o magistrado ter confiscado o celular da vítima e negado acesso ao material. O juiz também teria violado lacres de envelopes sem o acompanhamento da defesa.
Ele também alegou que “há indícios de quebra de custódia de provas” sobre o investigado. Em sua defesa, o juiz argumentou no processo que recolheu as provas para resguardar a identidade da vítima.
O g1 tenta localizar a defesa de Perri.
As mensagens encontradas no celular de Zampieri levaram, em agosto deste ano, ao afastamento de dois desembargadores de Mato Grosso por suspeita de venda de decisões judiciais. O lobista Andreson Gonçalves também seria um dos responsáveis por aproximar o advogado de desembargadores.
A defesa de Andreson alegou que as provas que embasaram a decisão que levou o nome do lobista como alvo de uma operação da Polícia Federal, foram obtidas após quebra de sigilo do celular de Zampieri, o que seria ilegal. O pedido declarou "ilícita e nula a utilização das provas coletadas na investigação" feita pelo CNJ.
De acordo com o STF, que negou um habeas corpus à Andreson, a investigação teve início quando um membro do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) autorizou o acesso a dados do celular de Zampieri. Como o aparelho continha informações pessoais e profissionais, o ministro disse que a decisão foi tomada com o intuito de buscar esclarecer se é permitido acessar esses dados, especialmente os que não têm relação direta com o crime. No entanto, a determinação foi questionada pela defesa de Andreson.
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Em dezembro de 2023, o advogado Roberto Zampieri, de 57 anos, morreu após ser baleado com pelo menos 10 tiros dentro do próprio carro, em Cuiabá. Vídeos de câmera de segurança mostram o momento em que a vítima é surpreendida por um homem de boné, que disparou pelo vidro do lado do passageiro, e fugiu em seguida (veja vídeo acima).
Segundo a Polícia Militar, o advogado saía do escritório que trabalhava quando o crime aconteceu. As equipes foram até o local, mas a vítima não resistiu aos ferimentos e morreu.
Em julho deste ano, o produtor rural Aníbal Manoel Laurindo foi indiciado como um dos mandantes da morte de Zampieri. As investigações comprovaram a ligação de Aníbal com o intermediário do crime, o coronel do Exército Luiz Cacadini, e o vínculo do coronel com os atiradores, que também foram indiciados, em fevereiro.
Confira abaixo os envolvidos na morte do advogado, segundo a Polícia Civil:
Aníbal Manoel Laurindo (mandante);
Coronel Luiz Cacadini (financiador);
Antônio Gomes da Silva (atirador);
Hedilerson Barbosa (intermediador, auxiliar do atirador e dono da pistola 9mm usada no assassinato).